Auto-referência do conceito e solilóquio da filosofia
Alexandre Fernandes B. Costa Leite 1
1. Introdução
O atual artigo carrega em si o ímpeto de delinear as linhas que efetuam o labor realizado por dois pensadores franceses contemporâneos, Gilles Deleuze e Félix Guattari, e mostrar em sentido geral a concepção que têm da filosofia. A primeira parte centra-se namaneira que a filosofia é focalizada, a atitude filosófica a realizar-se na ação criadora de conceitos, na auto-referencialidade dos mesmos; a segunda parte visa mostrar que tal postura sobre o que é a filosofia produz, inevitavelmente, o solilóquio, o que considero nada mais ser que a “morte da filosofia” .
2. Desenvolvimento
2.1. A Filosofia e os Conceitos
A pretensãoaqui é a de apontar que o caráter que a filosofia recebe na obra de Deleuze e Guattari angaria um itinerário inventor, uma propriedade criadora, não contemplativa, nem reflexiva, muito menos comunicativa, pois o pensar filosófico é compelido para o ato de intensa produção conceitual, a filosofia se passa na criação de conceitos, na arquitetura conceitual e na formulação de sentido. Conseqüentemente, o filósofo é o ser humano capaz de elaborar conceitos. Nessa perspectiva devem-se fazer as seguintes perguntas: O que se passa com um conceito? Como ele funciona? Sem dúvida, formular conceitos sem problemas a serem resolvidos é uma tarefa inútil, desagradável, visto que se ganha em trivialidade ao criar pelo simples fato de criar sem nada a resolver. Os conceitos devem ser colocados de modocoerente, ou seja, remetendo-se a problemas, pois estes são o sentido da invenção conceitual ; assim, deve-se criar conceitos para solucionar problemas que se considera mal vistos ou mal colocados pela história da filosofia.
Observar os escritos deleuzo-guattarianos sobre a filosofia significa chegar a conclusão de que os conceitos possuem caracteres úteis para a compreensão do método utilizadoe proposto para “fazer filosofia”:
|1) Os conceitos têm uma história, isto é, carregam em si partes de conceitos que resolviam outros |
|problemas e habitavam outros planos, mas também têm um devir responsável pelas conjunções entre |
|partes conceituais em um mesmo plano; |
|2) São formados porpartes conceituais que podem ser tomadas como conceitos . Assim, uma extensão ao |
|infinito é provocada; por exemplo, como mostra Deleuze, o conceito de EU em Descartes é formado por três |
|componentes: duvidar, pensar e existir. Cada um desses, por sua vez, já é um conceitos que tem seus |
|componentes conceituais. |
|3) Possuem uma endo e uma exo-consistência; aquela é definida pela inseparabilidade interna das zonas de |
|comunicação (a possibilidade de contato entre os conceitos em um mesmo plano de imanência não permite a |
|separação dos componentes que criam um conceito, pois se assim ocorresse o conceito “a” se metamorfosearia |
|em “b”), esta (exo) é determinada pelaconstrução de pontes entre planos distintos. Os conceitos são |
|corolário da condensação, acumulação e conexão dos seus elementos. Ou seja, o que interessa na formulação|
|dos conceitos é a produção de sentido, a consistência entre os conceitos. |
|4) Define-se o conceito, principalmente, por sua auto-referência, ou seja, ele não é uma função por não ||referir-se a nada exterior a ele próprio; o conceito não busca a referência em um estado de coisas (fatos),|
|mas sim nos acontecimentos (consistência). O conceito é sua própria referência “põe-se a si mesmo e põe seu|
|objeto”. Com essa postura percebe-se que Deleuze e Guattari direcionam o pensamento conceitual a uma |
|produção de diferença e de sentido, ou seja, acreditam que o...
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