Marcelo Afonso Ribeiro, docente do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, propõe sob o título «Psicose e desemprego: um paralelo entre experiências psicossociais de ruptura biográfica» num artigo publicado nas páginas 75 a 91, vol. 10, nº 1, 2007, dos Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, uma reflexão sobre as transformações no universo do trabalho e como estas afectam psicossocialmente os indivíduos. Assuntos chave: a noção de trabalho na lógica capitalista, a centralidade do mundo do trabalho, as saídas para o mundo do trabalho, a situação psicótica e a situação de desemprego, rupturas biográficas e afirmação da centralidade do trabalho. Marcelo Afonso Ribeiro inicia a sua abordagem com a noção de trabalho e como ao longo da história da humanidade o mesmo sempre ocupou um lugar central da maior importância ao permitir aos seres humanos o domínio e transformação sobre a natureza, e consequentemente a sua própria transformação. Dizer isto é dizer que ao transformar a natureza o homem tem vindo a transforma-se a si mesmo. Esta dialéctica é assim absolutamente fundamental para a compreensão do papel do trabalho nas sociedades ocidentais uma vez que ao dar forma útil à existência humana o trabalho permite o reconhecimento do homem no mundo exterior a ele. Com a perda de capacidade estruturante e unificadora, o trabalho deixa de ser a principal esfera da vida e torna-se numa das suas esferas. Offe e Gorz reconhecem no entanto que se por um lado o trabalho gera identidade, por outro lado os novos modelos de trabalho resultam em perdas de identidade, novas formas de alienação e novas formas de exploração, tornando o indivíduo precário. Como lidar com esta situação? De todas as tentativas de explicação da situação psicótica e da situação de desemprego, tanto as orgânicas, quanto as psicológicas e as sociais assentam no conceito de normalidade e vêem a loucura enquanto