Cidade na américa latina
Richard M. Morse
Estivemos algum tempo falando de cidades, um dos temas favoritos de Cuê, com aquela idéia dele de que a cidade não foi criada pelo homem, mas todo o contrário, comunicando essa espécie de nostalgia arqueológica com que fala dos edifícios como se fossem seres humanos... G. Cabrera Infante, Três tristes tigres
Nossas cidades não têm estilo. Não obstante, estamos agora constatando que elas têm o que poderíamos chamar de um terceiro estilo: o estilo das coisas que não têm estilo. Alejo Carpentier, Tientos y diferencias
Estas reflexões sobre "as cidades como arenas culturais" seguem uma linha de estudos que interpreta as cidades como cadinhos de mudança na era moderna. Todavia, ao iluminar a ênfase comumente dada às cidades como fontes ou forças motrizes de mudança, não vagarei à solta no nebuloso domínio de Lewis Mumford, o da "cultura das cidades". Tampouco recorrerei a uma sociologia que trabalha com cultura erudita, média e popular nos meios urbanos, ou reconstruirei imagens da vida urbana a partir de viajantes, romancistas ou memorialistas. O que estamos buscando é o ambiente urbano, não como descrito e analisado, mas como experimentado e expresso. As cidades tornam-se teatros e nossos informantes, atores. Estes últimos não são repórteres ou especialistas em diagnósticos, mas participantes envolvidos, que se lançam sobre
Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 8, n. 16, 1995, p.205-225.
todas as fontes ou recursos intelectuais e psíquicos de que dispõem para interpretar, não a condição urbana, mas a condição humana. Nossas cidades são Paris (mas sem nunca perder Londres de vista); São Petersburgo e Viena na periferia mediata; Rio de Janeiro e Buenos Aires na periferia mais afastada. Os economistas talvez reivindiquem terem divulgado esse modelo de concentricidade. Em todo caso, nossa investigação não herda desse modelo nenhuma imputação necessária de